QUEIMADAS FORA DE CONTROLE FAZ O SETEMBRO SE TORNAR RUBRO
Ardem troncos
nos morros
sem ter no céu
um ronco
de trovão.
As folhas enginhadas
e enrugadas
da flor-de-trovão,
e um trovão
embrulhado num relâmpago
de luz apagada.
Apaga o brilho
do viço da planta flor-de-trovão
na tocha acesa
da rocha ardente
na serras da Chapada,
amarrotada.
A primavera devorada
por alvoradas vorazes.
Um outubro rosa e ruivo
agora começa
vindo de um setembro rubro.
Será um outubro rubro
e turvo
de nuvem de fumaça
avesso da de chuva?
O velho pé da serra
deixando escapar entre os dedos
seus insetos e escaravelhos
É promessa
ou ameaça
essa nuvem de fumaça
sobre nossa cabeça?
É promessa de chuva
dos ditos cujos cajus,
ou ameaça turva
essas negras nuvens de fuligens
sobrevoando cachoeira e córregos
como nuvem de urubus?
Queimam árvores
como queimam livros,
bruxas, hereges.
Queimam florestas
como queimam arquivos.
Os incendiários queimam
palhas de buriti e de cana
não como quem
queima as pestanas
lendo folhas de livros
que vieram das árvores
das florestas, savanas.
Queimam cerrado
pantanais e serras
que, hasteadas,
agora arreiam,
como um estandarte,
ou lábaro que ostenta sem estrelas
o tecido flamejante
das serras e morros.
Quem dará nome
aos bois e lobos-quarás
e aos carcarás e rapinas humanas?
Quem dará nome
aos incendiários homens?
O homem, que é o lobo
do homem,
ou melhor, que é
o seu lobisomem.
Clerbet Luiz