PANDEMIA E AUXÍLIO FAZEM INFLAÇÃO TRIPLICAR EM QUATRO MESES E SUPERAR META
Um acontecimento raro, importante de ser observado, foi a disparada da inflação a partir de agosto. Há quatro meses, a alta de preços, em 12 meses, não passava de 1,6%, bem abaixo até mesmo do piso do intervalo do sistema de metas, que é de 2,5%. Daí em diante ocorreu uma disparada nunca antes vista de preços, concentrada em alimentos, mas também atingindo outros itens, triplicando a inflação. Não seria possível explicar esse fenômeno inédito sem a presença da pandemia e de seus efeitos na economia. O abrupto colapso dos mercados, com a concomitante paralisação da oferta e da procura, terminou por desarranjar a produção, provocando fortes desequilíbrios que foram se refletir na inflação rápida e ascendente.... –
Normalmente, a situação de fraqueza da atividade, expressa sobretudo numa altíssima taxa de desemprego, que passa de 14%, mas, se for considerada a situação pré-pandemia, está acima de 20% da força de trabalho, determinaria inflação também sem força. Mas o auxílio emergencial de R$ 600 mensais, valor 50% acima da renda média dos brasileiros pobres, que alcançou praticamente um terço da população, alterou a normalidade. A demanda por alimentos, artigos de residência e material de construção, reforçada pelo auxílio, encontrou uma oferta ainda insuficiente....
Diretamente no caso dos alimentos, categoria de produtos que está sendo mais pressionada no conjunto do IPCA, a escassez de oferta também foi reforçada pela elevação da taxa de câmbio, que levou a cotação do dólar a subir 30% no ano, até agora. Parte da produção de commodities de grande peso no consumo direto ou indireto das famílias — arroz, milho, soja, carnes, por exemplo — foi desviada para a exportação, sem que o governo providenciasse reforço dos estoques reguladores. O resultado é que a inflação de alimentos no domicílio, no acumulado de 12 meses encerrados em novembro, já subiu 21%....
Para dezembro, as perspectivas são de uma inflação mensal acima de 1%, reflexo do aumento das contas de energia, com a adoção da bandeira vermelha, patamar 2. A última vez que a inflação mensal superou essa marca foi em dezembro de 2019, com alta de 1,15%. Com essa base elevada de comparação, o IPCA acelerado previsto para dezembro não deverá produzir subida muito mais forte na inflação de 2020. Deve se situar acima do centro da meta, em torno de 4,5%, mas não ultrapassando o teto do intervalo em que, no sistema de metas, a variação do IPCA pode se acomodar....
FONTE: Uol economia
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