UNIÃO DE DEM, MDB E PSDB PELA PRESIDÊNCIA DA CÂMARA DESFAZ PLANOS E DÁ UM NÓ EM BOLSONARO
A esperança do presidente Jair Bolsonaro de construir uma
base de apoio no Congresso sofreu um abalo com as articulações para a sucessão
na Presidência da Câmara. A redistribuição dos partidos em novos grupos
enfraqueceu e isolou o Centrão, bloco parlamentar que recebeu cargos no governo
em troca de apoio político.
Rodrigo Maia articula para ser reeleito ou fazer seu
sucessor na Câmara dos Deputados
Para complicar ainda mais a situação, deputados desse grupo
que pretendem disputar o comando da Casa estão sendo pressionados a mostrar
independência do governo federal — movimento oposto à aproximação ocorrida no
início do ano.
PANO DE FUNDO – A formação dos blocos que disputarão a
sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Presidência da Câmara é o pano de fundo
para a saída, na segunda-feira, do DEM e do MDB do chamado “blocão”, comandado
pelo líder do PP, Arthur Lira (AL), e que reúne também siglas do Centrão. Nos
últimos meses, Lira tem atuado como articulador informal do governo no
Congresso.
O blocão reúne, formalmente, nove partidos (PL, PP, PSD, MDB,
DEM, Solidariedade, PTB, Pros e Avante), com mais de 200 deputados. Como
fizeram o MDB e o DEM, o Solidariedade também pode se desligar do grupo.
Por sua vez, DEM, MDB e PSDB pretendem formar uma frente de
centro independente ao redor de algum candidato respaldado por Rodrigo Maia. Há
aliados, inclusive, que ainda alimentam a esperança em uma possível reeleição
do parlamentar autorizada pelo Judiciário — mas o próprio presidente da Casa se
diz contrário à ideia.
ESTRATÉGIA – Esses movimentos são interpretados como
estratégia para enfraquecer a articulação de Lira, que se aproximou de
Bolsonaro nos últimos meses. O deputado é visto como potencial candidato à
sucessão de Maia.
O Centrão, que representa uma grande parte do blocão, é um
resquício do período de Eduardo Cunha (MDB-RJ) na Presidência da Câmara,
durante o governo da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Bolsonaro se aproximou do Centrão em abril deste ano, ao se
sentir acuado com os desdobramentos do inquérito em que é investigado por suposta
interferência política na Polícia Federal. O apoio parlamentar é fundamental na
tentativa de barrar, na Câmara, uma eventual denúncia da Procuradoria-Geral da
República.
TOMA LÁ, DÁ CÁ– Ao oferecer cargos em troca de sustentação
política, adotando uma prática que sempre condenou, Bolsonaro também estava de
olho nos pedidos de impeachment que já foram protocolados na Câmara contra ele.
O chefe do Executivo, com essa aproximação, pretendia,
ainda, isolar Maia e colocar um aliado no comando da Casa. E foi isso que
motivou a antecipação nas articulações para a sucessão.
“O que estamos vendo, em primeiro lugar, é uma perda de
força do presidente Bolsonaro e do deputado Arthur Lira. O segundo ponto é a
antecipação da sucessão na Câmara. Não me lembro de uma disputa pelo comando da
Câmara que tenha começado tão cedo, já que a eleição é sempre em fevereiro”,
disse o cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa,
apontando o próprio Bolsonaro como responsável por essa antecipação. Ele também
vislumbra que, até a eleição na Casa, haverá um acirramento dos ânimos, com
prejuízos para a relação entre o Congresso e o Planalto e também para a agenda
de reformas. (Jorge Vasconcellos e Luiz Calcagno / Correio
Braziliense).
FONTE: SITE INTERIOR DA BAHIA
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