ALEXANDRE DE MORAES INVESTIGOU BOLSONARISTAS DE FORMA EXTRAOFICIAL PELO TSE
Alexandre de Moraes investigou bolsonaristas de forma extraoficial pelo TSE
A publicação teve acesso a 6 gigabytes de conversas via WhatsApp que mostram como o setor de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral teria sido usado como uma espécie de braço investigativo para Alexandre de Moraes. O ministro, vale lembrar, foi um dos integrantes do TSE entre 2020 e 2024, sendo presidente da Corte nos últimos dois anos.
De acordo com a reportagem, as mensagens revelam um fluxo fora do comum envolvendo o TSE e o STF. Entre os envolvidos nas mensagens está o principal assessor de Moraes no STF.
Em alguns momentos das conversas, segundo a “Folha de S. Paulo”, assessores relataram irritação do ministro com a demora no atendimento às suas ordens.
“Vocês querem que eu faça o laudo?”, consta em uma das reproduções de falas do ministro.
“Ele cismou. Quando ele cisma, é uma tragédia”, comentou um
dos assessores
“Ele tá bravo agora”, disse outro.
O maior volume de mensagens com pedidos informais, segundo o jornal, envolveu o juiz instrutor Airton Vieira, assessor mais próximo de Alexandre de Moraes no STF, e Eduardo Tagliaferro, um perito criminal que à época chefiava a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE. Tagliaferro deixou o cargo em maio de 2023, após ser preso sob suspeita de violência doméstica.
As mensagens mostram que Airton Vieira pedia informalmente a
Tagliaferro — via WhatsApp — relatórios específicos contra aliados de Jair
Bolsonaro. Esses documentos eram enviados da Justiça Eleitoral para o inquérito das fake news, no STF.
Em nenhum dos casos aos quais a “Folha” teve acesso havia
informação oficial de que esses relatórios tinham sido produzidos a pedido do
ministro ou do seu gabinete. Em alguns, aparecia que o relatório era “de ordem”
do juiz auxiliar do TSE. Em outros, uma denúncia anônima. As mensagens são de
agosto de 2022 a maio de 2023.
Um exemplo citado pela reportagem é relacionado ao jornalista Rodrigo Constantino. Dois pedidos de monitoramento e produção de relatórios sobre publicações dele mostram como se dava a dinâmica, segundo o jornal.
Um dos pedidos de relatório é de 28 de dezembro de 2022, a
quatro dias da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para seu terceiro
mandato.
Airton pergunta a Tagliaferro se ele pode falar. “Posso
sim, posso sim, é por acaso [o caso] do Constantino?”. Depois desse áudio, os
dois teriam iniciado uma conversa sobre um pedido de Alexandre de Moraes para
fazer relatórios a partir de publicações das redes de Constantino e de Paulo
Figueiredo, ex-apresentador da Jovem Pan e neto do ex-presidente João Batista
Figueiredo (regime militar).
À época, Constantino e Figueiredo entraram na mira de Moraes
porque fizeram ataques à lisura da eleição e a ministros do STF, além de
incitar os militares contra o resultado das urnas.
Tagliaferro encaminhou uma primeira vez. Na sequência,
Airton Vieira manda novos prints de postagens de Constantino e pede alterações
do documento. Pelas mensagens, fica claro que o pedido para produção do
relatório partiu do próprio Moraes.
“Quem mandou isso aí, exatamente agora, foi o ministro e
mandou dizendo: vocês querem que eu faça o laudo? Ele tá assim, ele cismou com
isso aí. Como ele está esses dias sem sessão, ele está com tempo para ficar
procurando”, diz Vieira em áudio enviado às 23h59 daquele dia.
"É melhor por [as postagens], alterar mais uma vez, aí
satisfaz sua excelência”, completa Vieira.
Tagliaferro então responde, já na madrugada do dia 29 de
dezembro de 2022, e afirma que o conteúdo do relatório enviado anteriormente já
seria suficiente, mas que iria alterar o documento.
“Concordo com você,
Eduardo [Tagliaferro]. Se for ficar procurando [postagens], vai encontrar,
evidente. Mas como você disse, o que já tem é suficiente. Mas não adianta, ele
[Moraes] cismou. Quando ele cisma, é uma tragédia”, responde Vieira.
Dias depois dessa conversa, em 1º de janeiro de 2023, Airton
Vieira enviou a Tagliaferro cópias de duas decisões sigilosas de Moraes,
relacionadas ao inquérito das fake news, que foram baseadas em um relatório
supostamente enviado espontaneamente. Nas decisões, Moraes determinou a quebra
dos sigilos bancários de Constantino e Figueiredo, bem como o cancelamento de
seus passaportes, bloqueio de suas redes sociais e intimações para que fossem
ouvidos pela Polícia Federal.
FONTE: Jornal Itatiaia
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