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SALVADOR A PRIMEIRA CAPITAL DO BRASIL, TERRA DA MAGIA E DA ALEGRIA

by - dezembro 15, 2024


Salvador. A primeira capital do Brasil.

Salvador é um lugar onde os espíritos dos meus ancestrais dançam ao som dos tambores e onde o mar sussurra histórias há muito esquecidas. Sua magia vem da rica mistura de culturas africanas, indígenas e portuguesas que forjaram o Brasil. Explorando as ruas de Salvador desde a infância, a magia da cidade marcou minha alma.

“Já te contei por que esta praça se chama Praça da Piedade?” perguntou meu pai, com um sorriso, enquanto meus olhos se enchiam de expectativa.

O caos das ruas movimentadas desaparecia, dando lugar às cenas vívidas que ele descrevia: rebeldes clamando por liberdade, igualdade e pelo fim da escravidão—apenas para encontrarem seu destino na praça. Às vezes, eu me perguntava se as histórias do meu pai eram invenções de sua imaginação. No entanto, ao apontar para os prédios e estátuas ao nosso redor, eu sabia que aquelas histórias eram reais—um passado que nunca se foi completamente.

Uma década depois, guiado pela mesma curiosidade e pela influência de meu pai, comecei a explorar Salvador por conta própria. Por meio de conversas despretensiosas com desconhecidos, descobri as histórias tecidas em cada esquina, em cada pessoa.

No Pelourinho, coração da cidade, conheci Dandara, uma vendedora de acarajé que, apesar de ter sido criada como católica, sente a proteção de Iemanjá, a divindade do candomblé. Enquanto ela fala, reflito sobre a beleza da diversidade religiosa de Salvador e me lembro das muitas vezes que meu pai me levou às celebrações de Iemanjá, mesmo sendo católicos.

Do Sertão, uma região semiárida da Bahia, conheci Ana—uma estudante que escapou de uma vida de seca e miséria em busca de melhores oportunidades educacionais. “Minha mãe também!”, eu lhe digo, enquanto nos conectamos pelas tradições do interior baiano.

Na Ribeira, conheci Mantega, pescador há 50 anos, que contou a história de como conheceu sua esposa durante o Carnaval: “Lá, no meio de um mar de gente dançando nas ruas, eu a vi e soube que era ela.” Meus pensamentos voam para as viagens de carro que fiz com minha família, ouvindo axé—o ritmo típico do Carnaval.

No entanto, há outro lado dessas histórias. Dandara teve que deixar sua casa, deslocada pela gentrificação impulsionada pela especulação imobiliária. Os colegas de Ana desprezavam a política e não tinham interesse em participar das eleições, embora brasileiros possam votar a partir dos 16 anos. Mantega, antes apaixonado por sua profissão, agora pensa em abandoná-la porque a prefeitura desativou o trem que ele usava para chegar aos mercados. O que antes custava meio real brasileiro agora aumentou dez vezes—um preço alto demais para sua subsistência.

Essas histórias me fizeram questionar a magia da cidade. Enfrentei o pensamento perturbador de que nosso passado colonial poderia ter amaldiçoado Salvador para sempre. No entanto, recusei-me a aceitar que a cidade, outrora capital política do Brasil, teria seu destino definido como a capital da pobreza, da violência e do desemprego.

Pensei nos personagens das histórias do meu pai, onde pessoas de todas as cores e etnias tomaram as ruas de Salvador em levantes desafiadores. Inspirado por sua coragem, também escolho lutar.

Depois de conhecer Dandara, me juntei ao Parlamento Jovem de Salvador para propor novas políticas para a cidade. Os relatos de Ana sobre jovens desengajados em sua comunidade me motivaram a desenvolver um aplicativo para fomentar a participação política da juventude. A experiência de Mantega me incentivou a ser voluntário no Observatório de Mobilidade de Salvador para lutar pela acessibilidade no transporte público.


Salvador me encanta e aprofunda meu amor por minhas raízes brasileiras. No entanto, também me lembra que o Brasil ainda não se libertou de seu passado colonial. Estou comprometido a lutar para que as cidades brasileiras se tornem modelos de justiça e sustentabilidade para toda a América Latina, começando por Salvador. Farei isso por Dandara, Ana, Mantega e por aquela garotinha que, um dia, ouviu as histórias de seu pai e se maravilhou com os sítios históricos.

Por: Julia Carvalho Guedes


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