OS RISCOS CONTINUAM PARA QUEM JÁ SE "CUROU" DA COVID-19
PACIENTES CURADOS DO CORONAVÍRUS PODEM TER SEQUELAS
RESPIRATÓRIAS, CARDÍACAS E NEUROLÓGICAS
Os impactos deixados pelo coronavírus no corpo humano ainda
são uma questão em aberto e alvo de muitos estudos nos últimos meses. Após a
recuperação, pacientes que apresentaram a forma mais severa da COVID-19 e
precisaram de internação têm ficado com sequelas. Por ser uma doença nova,
ainda não se sabe a duração dos efeitos do vírus.
Como se trata de uma doença respiratória, as principais
sequelas deixadas pela COVID-19 nos pacientes recuperados estão nos pulmões. No
entanto, estudos recentes têm encontrado impactos cardíacos e até neurológicos
em algumas pessoas.
Médico pneumologista e presidente da Associação Catarinense
de Pneumologia e Tisiologia (Acapti), Fábio José Fabrício de Barros Souza
explica que as lesões aparecem, principalmente, em pacientes que precisam de
ventilação mecânica (respiradores) e acabam ficando um tempo maior na UTI.
- É comum ter tosse e falta de ar por lesões fibrosantes. O
coronavírus tem uma predileção pelos terços inferiores dos pulmões, ele dá uma
área que a gente chama de “vidro fosco” na periferia dos pulmões, fica uma
parte meio acinzentada. É justamente ali onde acaba tendo uma maior lesão
sequelar, causando essa fibrose. A função pulmonar não fica totalmente normal,
a pessoa fica com fadiga, cansaço, sem conseguir desempenhar as mesmas funções
como fazia antes - explica o médico.
Souza diz que a maioria dos pacientes acaba se recuperando
com o passar o tempo, mas os mesmos fatores de risco do início da doença também
aparecem como complicadores depois da COVID-19. Problemas cardíacos, obesidade
e outras comorbidades tornam a recuperação mais lenta, conforme a análise do
médico em pacientes que deixaram a UTI.
Publicações recentes nas revistas científicas New England
Journal of Medicine e Brain listaram sintomas neurológicos que foram
identificados em pacientes com COVID-19 que deixaram o hospital. Pontos como
dificuldades cognitivas e confusão mental foram notados, além de dor de cabeça,
perda de olfato e até mesmo hemorragias e trombose.
- É extremamente intrigante e não sabemos porque o vírus
causa tantos problemas neurológicos. A via olfatória é uma possível porta de
entrada, mas não apenas ela justificaria os problemas psiquiátricos - disse a
neurologista do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Unicamp, Clarissa
Lin Yasuda.
Já em relação aos danos no coração, um estudo da
Universidade do Texas, nos Estados Unidos, apontou que o músculo cardíaco pode
ser afetado pelo coronavírus e apresentar danos mesmo em pacientes que não
tinham problemas cardíacos antes de contrair o vírus. Os relatos apontam
sintomas de insuficiência cardíaca, e ainda não se sabe a duração dos sintomas.
No Brasil, um estudo em andamento no Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-USP) está
investigando a perda de olfato sentida pelos pacientes com COVID-19. Cerca de
5% das pessoas que deixaram de sentir cheiros por causa da doença não
recuperaram o sentido dois meses depois do início dos sintomas.
O estudo foi feito com 650 pacientes e, para os
pesquisadores, indica que é possível uma perda de olfato permanente após o
coronavírus, mas com chances pequenas. Conforme os pesquisadores, a recuperação
é mais fácil para quem é diagnosticado mais cedo e também começa um tratamento
precoce para reverter às sequelas depois de se curar da COVID-19.
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