VIAGEM DO MOTOCILISTA
Todos estão com saudades das viagens que eram realizadas antes da pandemia da COVID-19, acredito que os MOTOCICLISTAS são os viajantes que estão com mais saudades de suas viagens, classe amiga e exemplo a ser seguida, aonde chegavam com suas belas motos faziam sua festa sempre no clima de paz e amor.
A forma como vivemos, amamos, trabalhamos ou nos
relacionamos com os outros é algo muito pessoal, mas fortemente condicionado.
Viajar de moto também, mas com um bônus: podemos decidir se vamos sós, com
pendura, ou inseridos num grupo de mais motards!
Há algum tempo, um amigo de longa data, mais do que calejado a andar de moto e
guia habitual em muitos passeios e voltas por esse mundo fora, deu a novidade.
- Este ano vou fazer uma viagem de moto pela América do Centro e Sul e quero ir
sozinho! Gerou-se logo ali uma acesa discussão e troca de opiniões em que todos
os argumentos a favor de viajar sozinho ou acompanhado foram sendo desfilados
uns após os outros, sem existir unanimidade, tal como convém quando se vive em
democracia!
É comum dizer-se que numa viagem de lazer boa parte do
encanto reside na preparação: na escolha da companhia aérea, dos hotéis, nos
locais a visitar, na eventual reserva de bilhetes para atrações, transferes,
aluguer de carro, ou não, ir no próprio carro, por nossa conta ou com recurso a
uma agência de viagens, qual a meteorologia, se são precisos vistos, eventuais
vacinas ou medicamentos…
Numa viagem de moto tudo isso é bastante ampliado, já que a viagem é, em boa
medida, o próprio destino! Acresce que a preparação ganha outros contornos
porque há todo um conjunto de questões a rever que vão desde a componente
mecânica, incluindo eventual troca de pneus e revisão no trajeto, aos pontos
onde parar nem que seja para abastecer, a navegação, a bagagem que temos mesmo
que levar conosco, havendo ou não pendura… e até a necessidade de assistência a
acompanhar-nos!
Viajar em grupo entenda-se grupo como duas ou mais motos, tem muitos encantos,
mas é completamente diferente serem 4 ou 5 ou serem 10 ou 15 motos, como
provavelmente sabem, até por experiência própria!
Num grupo menor é mais fácil a interação e conseguir gerar consensos sobre qual
o ritmo a adotar, os locais em que se vão parar, as dormidas e demais
planificação. Além disso, a probabilidade de falha mecânica, quedas e outros
imprevistos acaba por ser bastante menor, embora se perca alguma magia que se
consegue na “algazarra” de um grupo maior.
Uma das maiores vantagens de viajar em grupo tem a ver com a reação perante
situações inesperadas. Num ambiente inóspito e hostil, uma queda sozinho pode
representar a perda de uma vida, e a dificuldade em levantar a moto ou
situações de roubo ou agressão, são potenciadas.
Uma avaria, um furo ou a falta de gasolina são situações que
podem ocorrer e de resolução mais simples quando se viaja em grupo. Por outro
lado, quando se vai em grupo, a partilha é maior. Claro que nos identificamos
mais com A ou com B, mas é natural que no meio de grupo haja sempre afinidades,
gargalhadas, saudáveis despiques e trocas de opiniões mais ou menos acaloradas.
Além disso, aprende-se a ser mais disciplinado, a respeitar o líder e o
vassoura, pois ninguém fica para trás e isto ajuda a desenvolver o espírito de
camaradagem e a responsabilidade.
Em oposição, várias cabeças, representam várias sentenças! Há quem goste de
andar devagar, a apreciar a paisagem, os acelerados, que querem é curvas e
roçar com os pés no chão, quem anda sempre a querer parar para tirar fotos,
visitar monumentos, comer ou simplesmente esticar as pernas e fumar um
cigarrito, gente que se recusa a dormir num lugar sem um mínimo de condições e
quem nada valorize isso, pessoal que aprecia a vertente gastronômica e quem
tenha apetite de passarinho…
Em suma, diferentes formas de pensar e de agir. Essa diversidade, ainda que
enriquecedora, pode fazer do mototurismo ou da motoaventura um verdadeiro
calvário! Pessoas muito diferentes conseguirem conviver durante 1 ou 2 dias
mas, e se forem duas semanas?
Há vários casos de grupos que acabaram por separar durante uma viagem por
diferendos de ordem vária! Há até uma máxima que diz: se queres conhecer
alguém… experimenta tirar férias com essa pessoa(s)! Tanto pode correr bem,
como ser catastrófico e estragar as férias! Ou seja, é realmente um desafio
muito grande viajar de moto em grupo, sobretudo se a duração da viagem for
maior e os participantes não se conhecerem minimamente.
VIAJAR SOZINHO PORQUE…
Interprete-se sozinho no sentido de ser uma única moto,
levando ou não alguém à pendura. Ter alguém a acompanhar-nos na mesma moto,
para resultar, é essencial que as duas pessoas, independentemente da relação
que tiverem, se entendam bem na moto e fora dela e já tenham algum conhecimento
mútuo para não acabarem a odiar-se ou a voltar para trás precocemente!
Recordo-me da história de um casal que ainda mal se conhecia (namoro recente,
igual à paixão e euforia) e ela aceitou o desafio de uma viagem de moto pela
Europa… sem nunca ter andado numa! Compraram equipamento para ela e lá foram à
aventura com mais um grupo de motards. Ao fim do segundo dia, farta de frio e
chuva e de horas a fio em cima da moto, ela disse que não queria mais! Acabaram
por voltar para trás os dois e o resto do grupo seguiu. Curiosamente, ainda
hoje estão juntos, mas, para ela, viagens de moto mais longas, nem pensar!
Para alguns a solidão pode ser uma maldição, mas para outros é uma bênção!
Diria, sem medo de errar, que há momentos para as duas, mas se quem anda de
moto sozinho o faz por opção e porque valoriza o isolamento que permite fazer
uma viagem interior, conhecer melhor o seu próprio eu, sem ter que aturar os
outros… ou levar a que estes o aturem!
Aliás, o exemplo inicial daquele meu colega tinha muito a ver com isso.
Estava cansado de viajar de moto, de ter que pensar nos
outros, de não conseguir focar-se em si mesmo, de ter que dar explicações e
justificações, quase a ter que pensar e até (re)agir pelos outros!
Que nada, acabou mesmo por me confidenciar que estava a perder parte do gosto de andar de moto e que só o voltou a descobrir quando começou a andar de moto em grupo, Ulissinho grande companheiro Motociclista de Livramento, adora viajar em grupo.
Que nada, acabou mesmo por me confidenciar que estava a perder parte do gosto de andar de moto e que só o voltou a descobrir quando começou a andar de moto em grupo, Ulissinho grande companheiro Motociclista de Livramento, adora viajar em grupo.
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